quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O árduo ser chamado missionário

    Eu tenho a absoluta convicção de que nasci para ser missionária, comissionada a levar o amor mais incompreensível de todos os tipos e formas de amar. Isso é algo intrínseco em mim, mas também foi uma escolha. Sinto aquele incomodo terrível de muitas vezes querer dizer a Deus :"Teu amor é tão maravilhosamente maravilhoso e gentil, não posso deixar de anunciá-lo". Aquele incomodo terrível de que nada valem as palavras ditas a ele, se sobre ele e por ele eu não faça as ações desse amor transformador. Não quero a pura teoria do ser cristã, quero a prática do amar ao próximo como a mim mesma, a prática de dar a vida em favor de muitos. Sendo simples e humilde de coração, assim como o mestre foi.
    Tenho aprendido muito com a minha primeira viagem missionária, que por sinal é daqui há 3 dias - só 3 dias! No constante aprendizado de como é difícil a disposição para a obra missionária. Dói, às vezes de uma forma que eu apenas consigo dizer: "Deus, eu não vou suportar". Aprendendo a depender exclusivamente da vontade de Deus e do seu agir, me desprendendo de todas as expectativas lançadas sobre o alvo errado e lanço a minha vida ao autor e consumador da minha fé. O alvo se torna apenas aquele  que faz o paraquedas reserva abrir, que marca o gol da decisão nos 48 do segundo tempo. Ufa! O cara que me faz sobreviver a todas as tempestades do meu coração e me coloca no lugar de dependente da sua soberana e perfeita vontade.
    Agora é certa aquela convicção que a obra dele é feita por ele, me conscientizando que sou apenas o instrumento, o qual ele segura em suas mãos e usa conforme apraz ao seu coração, conforme e da maneira que ele quer que assim eu seja, apenas instrumento. Um instrumento sujo e corrompido, sem inocência, corruptível, coberto de falhas, destruído pelo pecado, porém, pela graça, e somente pela graça, merecedor do céu sem merecimento nenhum.
    Pela cruz me chamou, gentilmente me atraiu e eu sem palavras me aproximo, quebrantado por seu amor. Por essa mensagem e para essa mensagem é que o meu coração deve pulsar, deve ser atraído, constrangido e incomodado.
   Procurando palavras a mais para acrescentar, não as encontro. Acho que as palavras chegaram naquele momento no qual se tornaram insuficientes. No currículo imaginário das teorias sobre o ide já tenho várias horas, chegou a hora de bater o cartão na prática, chorar com os que choram e apregoar as boas novas aos cativos e oprimidos.
    Na esperança de voltar me sentindo mais inconformada comigo mesma, mais desejosa de mudar as realidades negras e violentadas, estou a caminho do lugar que Deus quer me colocar. Na esperança que a verdadeira esperança é o Cristo ressurreto vivendo em cada coração digo o "eis-me aqui, envia-me a mim".

Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes. 

Isaías 35:3
   


 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Oração difícil

    Nunca vou deixar de esquecer a oração que fiz e mudou completamente alguns dos rumos da minha vida. "Deus, se eu não levar a tua misericórdia, afasta ela de mim. Se eu não levar o teu amor, afasta ele da minha vida". Não lembro mais do resto da oração, mas claramente lembro que na hora que essas palavras saíram dos meus lábios senti um peso sendo retirado com força dos meus ombros fracos. Ao mesmo tempo, senti um gosto amargo descendo pela garganta. Pensei: "O que eu acabei de falar? Pera aí, eu pedi pra Deus retirar o amor e misericórdia dele da minha vida? Não vai prestar, não vai!". E hoje estou aqui, ainda escutando os ecos desse desejo que eu mesma  não conhecia.
    Depois daquele dia, meu coração foi assumindo inquietudes que eu desconhecia, desejos maiores do que os costumeiros, uma inconformação descontrolada. Meus olhos começaram a doer com tanta podridão. Meu coração sangrando e eu não entendendo certos vazios que começaram a tomar conta dos dias. As coisas não pareciam serem mais tão certas como me fizeram acreditar. Comecei a pegar o manual de instruções e algumas das operações das máquinas não faziam sentido. Eu queria usar o liquidificador para amaciar a carne, queria usar a batedeira para cozinhar arroz. Eu queria pegar a graça e se apossar da salvação como aqueles diplomas que a gente pendura na parede com o intuito de esfregar na cara das pessoas.
    Muito começou a não fazer sentido lógico dentro de mim, duvidei de tantas coisas acerca daquele que eu chamo de Senhor. Por alguns instantes, senti a misericórdia se afastando de mim, não me senti amada, fiquei desprotegida, melancólica, chata, com aquele discurso do ninguém me entende, ninguém me ama.Queria entender, mas descompreendia mais ainda as coisas. Fechava com força os olhos, não queria mais ver esse mar de auto-enganação, esse exagero que força sinceridade diante de Deus. Eu queria ficar sentada, queria me calar, porém, achavam que meu silêncio era pecado, quando na verdade foi a minha verdade colocada a mesa com Deus.
    Sim, por algum momento, a minha oração ele fez real. Tirou o amor, tirou a misericórdia e me revolucionou. Instaurou em mim antes da revolução, uma crise ferrenha, dúvidas escabrosas, pensamentos inúteis. Só que tudo isso abriu meus olhos, mesmo que eu tenha inúmeras vontades de fechá-los para não ver esse palco de horrores que se tornou o evangelho. Tenho um certo medo quanto a forma que toda essa minha inquietude venha tomar conta de mim, peço que Deus tome conta e dê as direções certas a serem tomadas. Sua obra não vai parar diante do que eu acho ou não acho. Isso é certo.
    Não sei, se a luz da palava a minha oração foi certa. No entanto, foi a sinceridade que explodiu ferozmente do peito e saiu dos lábios. Ventos da mudança começaram a soprar, e por mais doloroso que seja -tem dias que preciso pedir uma dose extra de morfina pra Deus, é dessa maneira que quero viver, é com essa dor impregnada na carne que vou levar os dias, a Cruz e viver uma vida a Ele. Errando, caindo, chorando, duvidando, caminhando, indo e ao menos tentando ser alguém relevante. Implantando o Reino nas minhas ações. Anunciar a palavra na ousadia de não ser aceita, na coragem de dar a cara a tapa. E se for preciso, morrer para que a palava de Deus viva.
    Repetir todos os dias a mesma oração: "Deus, se eu não levar a tua misericórdia, afasta ela de mim. Se eu não levar o teu amor, afasta ele da minha vida". Acrescentando: "Não me permita a igualdade dos dias, a monotonia de te servir erroneamente, a vida contigo sem morte. Não me deixe ficar sentada e conformada com a forma que o teu nome é sujo e violentado sem dó. Dê-me a medida certa de inquietude no peito, as palavras certas e o momento de silenciar. Sei que vou errar, duvidar e cair, me ensina a te reconhecer nas minhas derrotas. Me ensina a verdade que me liberta, quero fazê-la conhecida. Quero compreender tua graça, por mais difícil que seja. Te confesso como meu senhor e salvador por mais um dia e que seja assim por todos os dias. Agradeço teu amor, tua misericórdia, teu nunca me desamparar. Em nome de Jesus, amém."