terça-feira, 20 de agosto de 2013

Oh, meu Deus (a que ponto chegamos)!

   
    O último vídeo do porta dos fundo fez o que queria, gerar polêmica. O nome do vídeo é "Oh, Meu Deus!". Para quem não viu ele se resume em uma moça que está fazendo um exame ginecológico e quando é examinada pelo médico, ele vê a imagem de Jesus exatamente lá....sim, onde você está pensando. Isso me trouxe a tona coisas nas quais ando meditando há algum tempo sobre o Cristianismo, em âmbito de Brasil.
    Esse vídeo não é o primeiro episódio de humor com relação a fé das pessoas, em especial ao cristianismo. Eu não encaro tudo como uma ofensa, muitas coisas são engraçadas e no fundo trazem reflexões que podem ser sadias, porém, a que ponto chegamos! Se o Evangelho está sendo ridicularizado alguma coisa está errada. Claro, que uma extrema falta de respeito é evidenciada por aqueles que fazem tais ridicularizações, mas, onde está a nossa parcela de culpa? Temos ou não temos culpa pelas vias de fato?
    Eu acredito que nós cristãos temos sim culpa por permitir que tais fatos aconteçam e que o nome de Jesus seja machucado e sujo dessa maneira vulgar. Porém, é hipócrita se indignar com isso, criticar ferozmente os autores de tais piadas, mas viver uma vida que por si só envergonha a Cristo. Se existem brechas para criticarem o erro está totalmente em quem critica? Sem a intenção de ser advogada do diabo, se coloque na posição de analista da situação e perceba o quanto a única vítima é Jesus. Você o ridiculariza quando não ama o próximo como a você mesmo ou quando briga com teus pais, quando bebe em excesso, quando é tomado por orgulho, quando você estupra, quando você rouba, quando deixa a carne prevalecer sempre e sempre.
    No entanto, independente das manifestações que ridiculizem o nome dele, o nome dele está sobre todo nome. Independente do que façamos para que realmente as pessoas tenham razão de acusações, ele está acima disso. Piada nenhuma pode ser capaz de diminuir as obras das mãos dele e o sacrifício da Cruz. Ele mesmo disse que o amor de muitos esfriaria, e como esfriou. Antes de condenar com tuas palavras de juiz, que você nem é, ore por nossa sociedade tão vazia, tão necessitada de ridicularizar o Único digno, tão desconhecedora do Cristo Ressureto. Ore para que o Brasil tenha igrejas compromissadas em anunciar um evangelho sério e comprometido, não perfeito e sem falhas porque isso é impossível, porém, que não aceite com ações de amor toda ofensa, toda piada de mal gosto. Precisamos mostrar que Jesus é muito mais que um personagem de uma piada infeliz.
     O Jesus da minha lembrança é esse que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra. E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai (Filipenses 2:6-11).


  

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A morte não é o problema

    



    Hoje a fala de uma conversa aleatória com um professor me fez questionar certas questões do tipo intocável e delicadas. O que ele simplesmente nos disse foi: "Médico não gosta de falar de morte". Médico, enfermeiro, padeiro, você e eu. E por que falar sobre a morte é tão complicado? Cai um pedaço da língua ou temos medo? Temos medo. Temos certo receio de citá-la nas conversas sobre a vida, nos tratamentos médicos, nas conversas familiares. A gente não dá a dimensão para a morte até que ela afete pessoas próximas e amadas, só que passado o impacto da perda, diminuídas as saudades, esquecemos facilmente da brevidade dos dias e vivemos e planejamos como se fossemos imortais. Primeiro, não temos tanto tempo. Segundo, vamos morrer, pessoas morrem como pessoas nascem.
     Há um sério problema quando o assunto é morte. Nos corredores e cotidianos hospitalares você ouve muito sobre como curar o paciente, qual o tratamento mais adequado, porém qual é a morte mais adequada? Até que ponto o tratamento trata? Infelizmente estamos em uma cultura que artificializa tudo, inclusive a morte. O parto já não é natural, por que a morte seria? Nascemos de parto cesáreo e morremos entubados e sozinhos em um leito de UTI. Morremos depois de passarmos dias e dias enfiados em um hospital passando por tratamentos agressivos, invasivos, que podem sim prorrogar os dias, mas nos afastam do convívio familiar dos nossos últimos dias e dos prazeres antes do tratamento usufruídos. Não estou desmerecendo os tratamentos médicos, a intervenção de medicamentos e demais ferramentas em prol da saúde, seria estranho eu, futura médica, desprezar o conhecimento que a medicina vem me propiciando. Mas talvez a minha experiência particular, no intercurso da doença e morte de minha mãe, pude analisar melhor até que ponto há tratamento e até que ponto há vida.
     Minha mãe morreu não no dia 02 de dezembro de 2010, morreu quando o tratamento dela desmereceu suas dores, desmereceu a vida que ainda restava, quando ela deitou na cama do seu quarto e percebeu que nem mais os cabelos poderia pentear. Quem se importou com isso? Eu não me importei. Ninguém se importou no resto de vida que ela tinha, se importaram em quantos dias o tratamento poderia prorrogar sua vida, mas aquilo era vida? Ninguém perguntou se ela gostaria de comer um pedaço de jaca ( a fruta que ela amava). Ninguém quis dar o último pedaço de jaca da vida dela porque ninguém queria aceitar que ela estava no seu findar dos dias. Quando ela entrou no hospital, naquele conturbado 30 de novembro de 2010, eu sabia que ela estava partindo. Ela não queria ficar lá, ela pediu para ficar em casa, enquanto ainda restava uma pequena porção de consciência. Porém, não, ela precisava de tratamento. A gente precisava ver o remédio entrando por suas veias e precisava do desespero de ver que ela não tinha mais função renal pela sonda vesical completamente vazia. Os órgãos foram paralisando, sua respiração mais ofegante e mais distante, o coração cada vez batendo mais rápido e se despedindo a cada segundo que passava. No soro doses e doses da morfina que ela negou tomar por desconhecimento e teimosia. A cada visita médica aquele olhar de desesperança e no fundo me falando que não havia mais jeito. Estávamos lá, trancafiados em um quarto de hospital, esperando da boca pra fora algum milagre e do coração pra dentro o último suspiro dela. Lembro com clareza que horas antes da sua morte, resolvi cantar ao pé do ouvido de minha mãe as músicas que ela gostava e aquilo acalmou claramente o seu coração. Eu deveria, talvez, ter cantado nos outros dias. Não sei. Optei que ela ficasse no quarto e pudesse morrer conosco, e foi o que aconteceu. Ela morreu de mãos dadas comigo e não sozinha em uma cama de UTI. Apesar de no fim de sua vida não ter tido o tratamento que desse mais vida e não mais dias, ela morreu com o calor de nosso amor, morreu cercada por quem a amava e hoje sente saudades. Acredito que tudo isso fez parte de planos maiores que desconheço por completo. Mesmo sendo cedo, posso dizer que a parte da medicina de cuidados paliativos muito me atraí, porque ter perdido minha mãe me fez não ter problemas a falar abertamente sobre a morte.
    Não sou contra o tratamento, uma pessoa que merece uma morte com qualidade, merece da mesma forma tratamento até o último momento de vida. Sou contra o tratamento que desmerece a ação da natureza na progressão da morte de uma pessoa. Sou contra toda a intervenção que não alivia a dor e só prorroga o sofrimento. Sou contra quem pensa como eu, mas nega tratamento curativo quando o paciente ou a a família solicitam que seja assim. A opinião do paciente sempre prevalece. Porém, temos ainda muito enraizado na nossa sociedade que a única ação de cura obstinada é efetiva e de qualidade, se o médico oferece a possibilidade de uma qualidade de vida mais digna e uma morte mais tranquila ele está se negando a fazer tudo que deve ser feito. Só que até que ponto há esse limite?
    Qual é o limite de uma vida boa e o limite de uma vida que não é mais de qualidade e prazerosa ao paciente? Lembro-me que quando questionei minha mãe, semanas antes de sua morte, sobre o fato de que se a morte fosse o remédio para todo aquele sofrimento desgraçado ela aceitaria. Com poucas palavras e certo tom de pesar, ela me respondeu que sim, porque aquela vida não era mais a vida que ela sonhou em ter, nem tampouco, sonhou morrer daquele jeito. Vai dizer que você nunca imaginou sua morte como ir dormir e nunca mais acordar? Eu muitas vezes me pego pensando qual tipo de morte eu terei? Quero uma que seja aquele tipo de morte vivendo.
    É tão bonito no filme quando a mocinha descobre uma doença terminal e resolve viajar pelo mundo a fim de realizar os últimos sonhos dela...no filme é bonito. A questão não é o morrer, é o aceitar como algo que acontece na vida, seja na vida de jovens, adultos, idosos ou até mesmo crianças. Além do mais, a minha visão pessoal de mundo me faz acreditar que existe alguém soberano que diante sua vontade dá ou tira a vida conforme o plano assim proposto por Ele. Se a vida é um milagre, morrer dignamente é outro maravilhoso milagre também. Há uma esperança na morte que essa vida terrena nunca poderá garantir. E no fim, a morte só é um problema pra quem não sabe onde vai chegar depois dela.  

Uma música que lembra a minha mãe e toda a luta contra o câncer que durou 3 anos e meio. Sinto saudades, hoje já não dói, a ferida cicatrizou. E hoje olho para a cicatriz e vejo o quanto ela ensinou e ainda ensinará. O fato é que a  morte ensina aqueles que com ela querem aprender, pois não há remédio para ela, só fica a saudade e aquilo que nos concedemos a aprender.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Um Chico de "Joãos e Marias"

Talvez ele seja só mais um personagem histórico forjado de marketing e uma sacada super inteligente da Igreja Católica. Falo talvez para mostrar um pouco do meu lado desconfiado das coisas, e até de certa forma, pessimista.
Sim, vou falar do (fofíssimo, pra mim) novo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, dona de tantos escândalos, detentora de uma história que é muito indignante a qualquer um que conheça meramente uma pequena porção dela- me incluam na parte indignada com a história deles. Independente dessa história, não querendo chamar ninguém de santo ou demônio, nem idolatrar a imagem de Jorge Mario Bergoglio, preciso mostrar a minha admiração ante a este senhor. Tenho acompanhado algumas de suas falas e discursos, dei um follow pra ele no meu twitter, li algumas notícias sobre a JMM e fico muito inspirada com as ações tomadas por ele, não todas (é claro!).
Como cristã, não dá para menosprezar as atitudes cobertas de simplicidade, humildade e compaixão tomadas pelo Papa Francisco. Provavelmente não só a Igreja Católica estivesse precisando de um líder nessa estirpe, como também todos os cristãos, independente de serem católicos ou protestantes, precisavam de uma imagem que servisse de exemplo de humildade. Não concordo com tudo que ele faz, acho um verdadeiro absurdo certas linhas seguidas pela Igreja Católica, vejo muitas heresias e deturpações no quesito de interpretação das escrituras sagradas. Mas essa imagem que ele passa me traz a tona muito daquilo para que Cristo nos chamou e ensinou. Seja a imagem dele sincera ou mera forçação de barra, para dar uma limpadinha na imagem toda suja e manchada da Igreja. Fora dessa redoma de visão, devemos olhar para o papa e nos inspirar quanto o amor ao próximo.
Achei muito interessante e válido o papa pedir que as pessoas orem por ele, porque o que menos vemos é isso, um líder se colocando em um mesmo lugar de seus liderados, destituindo os patamares já estabelecidos que geralmente geram segregação e descaracterização. Jesus andava de igual para igual com seus discípulos, mesmo ele sendo Jesus, o filho de Deus. Claro que Jesus é Senhor e o papa é um homem como qualquer outro, como eu e você. Ele é homem como eu e você, sujeito as mesmas tentações e escolhas, sendo que ele parece optar pelo caminho da simplicidade, um caminho sem tantas regalias a ostentar,que quebra protocolos e se preocupa com quem merece a preocupação. Se ele é da teologia da libertação, ainda não sei, só que é notório a sua preocupação com os menos favorecidos e com a ação social, que é dever da igreja que se intitula de Cristo, porque obrigatoriamente (entenda por compromisso) precisa anunciar o amor. E existe forma mais maravilhosa de anunciar o amor estendendo a mão a quem nada tem?  
Se o Papa Francisco não passar de mais um personagem fictício da história da igreja católica apostólica Romana, que seja. Não estou aqui dizendo para olhar agora para a imagem do papa e simplesmente esquecer todo o passado obscuro da igreja católica. Ele não é santo e sem pecado, ambos somos pecadores, eu, você e ele. Ele não é perfeito, imaculado, digno de honra e louvor. Mas você não pode negar, que ele é um exemplo vivo e eficaz daquele tipo de pessoa que te inspira bons sentimentos, bem ao menos pra mim é assim.
E oremos pelo papa, como ele pediu. Oremos também por nossas autoridades eclesiásticas, políticas e sociais.



E se você quer saber se sou católica, não, eu sou cristã protestante reformada e os demais sobrenomes ainda estão em fase de desenvolvimento ;)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Prenúncios de um novo tempo

Vamos um dia acordar mais apaixonados pela vida. Acho que vai chegar a hora, é preciso que ela chegue, que a história do outro não deixará de ser menos importante que a nossa própria. Vamos nos disponibilizar a cruzar a ponte dos nossos preconceitos, a quebrar os muros das nossas próprias ignorâncias e pecados. Não será insuportável e falso ser tolerante. Ainda dá pra acreditar. Ainda dá pra ser realista e sonhador, por que não? As pessoas ainda serão permitidas a terem sonhos absurdos, poderão escrever com tinta e vida as suas escolhas. Não podemos deixar de crer, por menor que seja o nosso lampejo de esperança, que juntos podemos e conseguimos mais. Ninguém vai muito longe sozinho e se for, no fim cairá despedaçado junto com seu coração. Ninguém vai perder sua parcela de culpa, mas não vai depositá-la em quem não a pertence. Os adultos ainda podem ser a projeção que fizeram na infância. Sim, é utópico acreditar nisso, na verdade, isso não vai acontecer mesmo. Não vai porque estamos acostumados em nos conformarmos, em simplesmente ver uma realidade e aceitá-la pronta, ainda mais aquelas que dispõem nosso esforço em prol do outro. Somos muito egoístas quando se trata do outro e preguiçosos quando se trata de nós mesmos. Estamos nos motivando, geralmente, pelos motivos errados, com certezas invertidas e alvos que trazem ao centro o que deveria permear as beiradas de quem somos. É utópico acreditar que o amor transforma quando não deixamos ele nos transformar. É mais fácil pôr no foco os erros e tirar do foco o que orienta de fato, porque erro nenhum orienta, pode até ensinar, mas não traz ação genuína, não motiva e só gera desesperança na vida. O que nós precisamos é de esperança. O que nós precisamos é de ações feitas em amor, em prol da esperança e sem nunca desacreditar que a chave de toda mudança está em nós, no conjunto que somos juntos. Prenúncios de um novo tempo, talvez melhor em amar, porém, não tão mais fácil como antes, chegam para mostrar que vamos sim um dia acordar mais apaixonados pela vida.