segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Diário de viagem - Haiti (parte 1)


Temor e laço vieram sobre nós, assolação e destruição. Torrentes de água derramaram os meus olhos, por causa da destruição da filha do meu povo. Os meus olhos choram, e não cessam, porque não há descanso, até que o SENHOR atente e veja desde os céus. Os meus olhos entristecem a minha alma, por causa de todas as filhas da minha cidade. Como ave me caçam os que, sem causa, são meus inimigos. Cortaram-me a, vida na masmorra, e lançaram pedras sobre mim. Águas correram sobre a minha cabeça; eu disse: Estou cortado. Invoquei o teu nome, SENHOR, desde a mais profunda masmorra. Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor. Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas. Pleiteaste, Senhor, as causas da minha alma, remiste a minha vida. 
Lamentações 3:47-58


    Confesso que ainda não organizei ao certo todos os pensamentos, os aprendizados e lições adquiridas nos 12 dias que estive no Haiti. Como todo mundo diz pra mim, foi sim uma experiência marcante em todos os seus aspectos e arestas. Considero que nas conclusões finais haverá um melhor entender da humanidade, de mim mesma, de tudo que acredito e professo. Foi uma imersão profunda em tantas coisas, das quais eu ainda não voltei.
   Bem, o que falar sobre o Haiti? Um país submerso em crises de todas as magnitudes, com constantes fenômenos naturais abalando suas fracas estruturas sociais. Isso é fato. Um país destruído pela miséria, engolido por suas mazelas sociais. Rico em receber ajuda de todos os cantos do mundo, porém, pobre em investimentos reais e efetivos. Um lugar que tem recebido mãos que acariciam por 1 minuto, mas com falta de mãos que ensinem outras mãos e que digam que as mãos hatianas possuem sim o poder de reconstruírem um novo Haiti.
    Obviamente que você deve estar perguntando quantas vezes eu me perguntei sobre Deus e onde ele estava naquele lugar. Perguntei incansáveis vezes, orava em pensamento e pedia que ele se revelasse a mim. Porque é complicado aceitar um Deus de amor e misericórdia em meio a ruas nas quais o esgoto a céu aberto se confundia com porcos e cabras e crianças dividindo um mesmo espaço. É complicado acreditar em um pai de amor vendo crianças desnutridas, pais de família que fazem uma refeição por dia, pessoas que comem quando encontram algum resto de comida que os alimentem. Isso mexeu nas entranhas da minha fé, nas entranhas do meu conformismo e comodismo. E no fim eu ainda não obtive uma resposta exata. Mas entendi que isso é reflexo de homens que se assentam no poder e não buscam o bem coletivo da nação, que não mudam realidade nenhuma e que perpetuam caminhos viciosos de desvalorização do seu próprio povo. Frutos de uma escolha que destrói vidas, massacra histórias e mata a esperança,que no fim é a primeira que morre.
    Agora uma das coisas mais dolorosas é ver a quantidade de igrejas,  lojas e lugares possuem o nome de Jesus, no entanto, eu não consegui ver o Jesus que eu conheço em muitos daqueles lugares. Onde está o cristianismo implantado? Onde está a transformação de Cristo em cada vida? As desconheci em muitos dos lugares que estive. No entanto, conheci muita gente disposta a mudar o Haiti, descobri o misto de esperança e dor dos olhos dos pequenos hatianos. E quando me perguntam sobre o que mais me fascinou, com toda certeza, foi o olhar dos pequenos hatianos que já viram muito mais do uma infância merece ver.
    Tive a oportunidade de trabalhar em três comunidades, com a chance de conhecer hatianos não conformados com a realidade de seu país. Fossem eles interpretes, pastores, membros das igrejas, enfermeiras, técnicas em enfermagem, moradores daquela comunidade. Pessoas que sabiam que estávamos ali para simplesmente mostrar que acreditamos no potencial que eles possuem, naquela máxima de ensinar a pescar e não dar o peixe. Pessoas que sabem que ainda há muito a ser feito e compreendiam que havia sido lançada uma gota diante de um oceano de mudanças que o Haiti precisa passar.
    Muitas outras coisas a acrescentar e relatar. Esse foi um panorama geral das sensações e emoções. Amanhã continuo essa série de posts que será sobre o Haiti. Peço que agora, separe um momento e ore por um novo Haiti. O Haiti precisa de suas orações, e se possível, de suas ações.















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