sexta-feira, 19 de abril de 2013

A brevidade das coisas

    Esses dias li uma frase que falava que somente as pessoas infantis proferem as palavras nunca e sempre nos seus discursos. Isso é uma verdade, talvez até dolorosa em certos momentos, que habita os dias e as nossas histórias. Hoje estava mexendo em uma agenda velha e encontrei algumas cartas não enviadas para algumas pessoas, me atrevi a lê-las e percebi que eu não tenho mais a mesma relação com os destinatários daquelas palavras. Não que aquilo fosse falso, eu realmente sentia aquilo por aquelas pessoas, se hoje elas me ligassem ficaríamos horas ao telefone colocando o papo em dia, porém, estamos em lugares diferentes, vivendo nossas realidades diferentes e afastados. Ponto.
    Por muito tempo acreditei que muitas pessoas poderiam permanecer para sempre do meu lado e que elas nunca me abandonariam. Minha mãe, morreu. Minha vó, morreu. Acho que perdi um pouco dessa utopia e isso se mostrou realmente ilusório. Não, eu não estou sofrendo a perda delas, apenas constatando, que ninguém pertence a ninguém. Nem minha mãe poderia dizer que nunca me abandonaria porque chegou o dia dela partir, é a lei natural das coisas, os filhos enterram os pais- e em alguns acidentes de percursos pais enterram filhos. Ficam agora as suas lembranças, a saudade, o repetido falar sobre ela em todos os dias. Um dia meu pai também vai partir, eu vou partir, meu irmão vai, meus amigos vão, meus (quem sabe, né?) filhos, meu marido. Acabei de lembrar que o único bichinho de estimação que tive também partiu, a Tarta, minha tartaruga, que eu enterrei em um caixão feito de isopor colorido.
    E a vida é isso (que frase mais clichê!), as pessoas entram nela, nos acompanham por um percurso e depois partem. Algumas partem através da morte, outras vão morar em outra cidade, outros simplesmente vão se afastar porque vão se afastar, não há explicação melhor. É outra lei natural, aceite. Estou aprendendo a aceitar, sou teimosa e antes bato o pé no chão e faço bico, depois aceito. Se eu aceitei pegar as mãos geladas da minha mãe, por que vou questionar quando pessoas que eram tão importantes para mim, simplesmente se afastaram ou eu me afastei delas? Faz parte!
    Vejo muitos adolescentes e suas ilusórias amizades para a vida toda. Queridos, isso é raridade! Tenho alguns poucos amigos que conservo desde a infância, mesmo morando longe, mesmo na correria dos nossos dias, ainda mantemos contato, ainda nos encontramos em casamentos, daqui uns tempos, em festas infantis, formaturas, e até em enterros. Não diga para um amigo que vocês serão para sempre amigos, mas diga que enquanto vocês estiverem caminhando juntos, vocês estarão juntos. Basta! Isso evitará que você se machuque demais. Apesar que amar, que se doar, custa e tira de nós pedaços e porções, ficam lembranças, saudade, vontade de só dizer um oi, mas por conveniência da distância, nos calamos e entendemos que existem épocas e momentos, circunstâncias que aproximam e outras que geram distância.
    Vinícius de Morais no soneto da fidelidade disse: "Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure". Isso resume o que é a nossa fidelidade do andar juntos, ela é limitada a nossa brevidade, é uma chama que vai se apagando com o passar dos dias, mas que pode ser infinta enquanto for verdadeira, digna e oportuna.
    Por mais que desejamos tanto a eternidade das coisas, que mães, pais, vovozinhas, irmãos, amigos, bichinhos de estimação, sejam eternos, a eternidade é incomoda. Ao menos, para mim, é estranho pensar em uma vida sem morte, em ser alguém eterno. Minha constituição e carne são perecíveis. As amizades são perecíveis, os amores também o são. As paixões uma hora cessam, as necessidades de se estar junto da mesma forma. Não me diga que não é assim, não estou sendo pessimista, apenas constatando as verdades que todo mundo finge não ser verdade, naquele lindo discurso de que na minha casa nunca vai acontecer isso. Já aconteceu, acontece a todo momento.
    Porém, eu acredito que vou viver eternamente, um dia. Não nesse corpo e nessa carcaça, porque esse corpo corruptível não compreende a eternidade, ele fica enjoado em pensar nisso. Ao mesmo tempo, o meu corpo não concebe a ideia de que tudo foi criado para simplesmente acabar. Existe alguma coisa além disso tudo. Chegará o dia que não será necessário dizer para sempre e nunca, por que do que vale isso na eternidade? Chegará o dia no qual não haverá mais dias contados, não haverão mais choros, despedidas, distâncias.
     Eu confesso que não sei como vai ser a eternidade ao certo, pensar demais nisso vai roubar de mim essa vida de agora, vai me afastar de quem por enquanto está perto. Focar no eterno, no entanto, sabendo viver o agora. Saber colher as coisas boas, aprendendo com os tombos, dando risada dos tropeços, cantando as músicas preferidas, ajudando as pessoas, distribuindo amor, cativando sorrisos. Sem nunca, sem para sempre e um dia, sem mais adeus.
 
"Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade" 
Eclesiastes 1:2

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